Teoria crítica em estudos organizacionais no Brasil: o estado da arte

Vou procurar argumentar, neste artigo, que a teoria crítica, entendida como marxismo ocidental, somente agora tem, no Brasil, na área de estudos organizacionais, uma produção sistemática relevante. Ao contrário das crenças fixadas na academia, no Brasil, não houve nessa área de estudos uma linha de pesquisa com substância histórica. Isso não será feito de forma exaustiva, primeiro de tudo, porque não é o propósito dessas reflexões e, em segundo lugar, porque muitas das questões que serão aqui abordadas já foram tratadas em outros textos.

Para facilitar minha exposição, procurarei explorar o tema a partir de quatro questões: Teoria Crítica; Teoria Crítica em Estudos Organizacionais; Critical Management Studies; Análises Críticas em Estudos Organizacionais. É importante considerar que as mesmas não esgotam o conjunto das abordagens necessárias ao esclarecimento do tema do estado da arte da teoria crítica no Brasil, mas oferecem uma boa pista de investigação e um proveitoso motivo para polêmicas, que espero possam ocorrer.

POR UMA TEORIA CRÍTICA DA SUSTENTABILIDADE

Este artigo tem por objetivo propor uma teoria crítica da sustentabilidade. Para tanto, procurar-se-á resgatar as concepções mais usuais e universais sobre o tema, aqui denominadas de Teoria Tradicional da Sustentabilidade, de forma a localizar sua evolução teórica e conceitual, inclusive em seu viés crítico. A estratégia a ser utilizada será a de apresentar a teoria tradicional para, posteriormente retomá-la através de destaques, de maneira a dar à mesma um significado que seja capaz de mostrar como estas escondem uma proposta que atende às necessidades do sociometabolismo do capital (MÈSZÁROS, 2002). Isto será feito a partir da definição dos elementos constitutivos de uma teoria crítica da sustentabilidade. A argumentação que sustenta a teoria crítica sobre a teoria tradicional da sustentabilidade tem por base a concepção de que a sustentabilidade deve ser compreendida não apenas como um processo coletivo da produção das condições materiais objetivas e subjetivas de existência social, mas igualmente como um processo que valoriza do mesmo modo seus produtores. 1. A Teoria Tradicional da Sustentabilidade O conceito de sustentabilidade tem origem em 1987, quando a então presidente da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, G. Harlem Brundtland apresentou para a Assembleia Geral da ONU o documento “Nosso Futuro Comum”, que ficou conhecido como Relatório Brundtland (ONU, 2007). Nesse Relatório, o desenvolvimento sustentável foi conceituado como sendo aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades. Imediatamente, este conceito deu origem ao de Sustainability, que é uma ação em que a elaboração de um produto ou desenvolvimento de um processo não compromete a existência de suas fontes, garantindo a reprodução de seus meios. Como consequência, logo se propôs o conceito de desenvolvimento sustentável enquanto um processo de gerar riqueza e bem-estar, ao mesmo tempo em que promoveria a coesão social e impediria a destruição do meio

Razão Tradicional e Razão Crítica (Revista de Ciências da Administração)

[huge_it_share] Questionar a razão que constrói as razões é condição essencial para compreender como se constitui, na atualidade, o ensino e a pesquisa em Administração. Para tanto, o objetivo central deste trabalho é refletir sobre a prática científica caracterizada pela Razão Tradicional (Ciência Moderna) e pela Razão Crítica. Não se trata de avaliar o status …

A Gestão por Competências no Quadro da Hegemonia: estudo de caso numa organização multinacional de logística

O objetivo do presente artigo é caracterizar os programas de gestão por competências como instrumento da hegemonia capitalista nas organizações. Para tanto, realizou-se um estudo de caso descritivo-qualitativo numa empresa multinacional da área de logística. Os resultados apontam que a gestão por competências apresenta-se como um elemento essencial na formação da vontade coletiva dos trabalhadores na realização dos objetivos capitalistas, fornecendo um conjunto de comportamentos aceitáveis para as pessoas. De uma forma concreta, a gestão por competências orienta as ações de gestão de pessoas no sentido de valorizar os comportamentos desejáveis e punir (ameaçando, inclusive, sob pena de desligamento da organização) os “não talentos”, atuando de forma intensa e sutil como instrumento da hegemonia capitalista informacional.