Teoria crítica em estudos organizacionais no Brasil: o estado da arte

Vou procurar argumentar, neste artigo, que a teoria crítica, entendida como marxismo ocidental, somente agora tem, no Brasil, na área de estudos organizacionais, uma produção sistemática relevante. Ao contrário das crenças fixadas na academia, no Brasil, não houve nessa área de estudos uma linha de pesquisa com substância histórica. Isso não será feito de forma exaustiva, primeiro de tudo, porque não é o propósito dessas reflexões e, em segundo lugar, porque muitas das questões que serão aqui abordadas já foram tratadas em outros textos.

Para facilitar minha exposição, procurarei explorar o tema a partir de quatro questões: Teoria Crítica; Teoria Crítica em Estudos Organizacionais; Critical Management Studies; Análises Críticas em Estudos Organizacionais. É importante considerar que as mesmas não esgotam o conjunto das abordagens necessárias ao esclarecimento do tema do estado da arte da teoria crítica no Brasil, mas oferecem uma boa pista de investigação e um proveitoso motivo para polêmicas, que espero possam ocorrer.

(Sem) saber e (com) poder nos estudos organizacionais

Bacon afirma que saber é poder. Tragtenberg contesta. Essa discussão, na contemporaneidade, faz-se mais importante do que se possa imaginar. Por isso, o objetivo central deste artigo é verificar as relações entre saber e poder, na atualidade, levando em consideração o papel da ciência e dos elementos imediatos a ela relacionados. Quanto aos objetivos específicos deste estudo, destacam-se: – compreender o sentido da filosofia e da ciência e suas relações com a ideologia; – verificar como o discurso da neutralidade axiológica da ciência se apresenta como mito da modernidade e como se dá a presença da “fé” na filosofia e na ciência, na contemporaneidade; – refletir sobre a consolidação da ciência como força produtiva e/ou como mercadoria no atual sistema econômico; – destacar a importância do complexo industrial militar como financiador de grande parte dos atuais estudos científicos; – entender o processo de racionalização, avaliando a importância do pragmatismo e da burocracia universitária como afirmação da ciência na atualidade. O texto conclui que tanto é possível a existência de saber como poder (Bacon) como a de não saber, mas com poder (Tragtenberg) para compreendermos a relação entre saber e poder.

Dialética negativa e a tradição epistemológica nos estudos organizacionais

A primazia do objeto é condição fundamental de compreensão da realidade para a dialética negativa proposta por Adorno. Este ensaio tem como objetivo principal apresentar a Dialética Negativa como método de refl exão, bem como suas eventuais contribuições para os Estudos Organizacionais. Para isto, será necessário verifi car como a Dialética Negativa se apresenta como um “atentado” contra a tradição; como o cognoscível é construído na relação objeto ↔ sujeito ↔ objeto pelo princípio da não identidade; como a aparência e a contradição são elementos de recusa a uma totalidade defi nitiva; como o conceito, enquanto elaboração do pensamento, e as categorias, enquanto modo de apreensão do real pelo pensamento, são elementos constitutivos da formação da realidade; e como se formam os sistemas totalitários. Com isto, será possível verifi car como a construção do entendimento ocorre por meio de construções afirmativas contrárias à Dialética Negativa, que se fi rma com base no princípio da não-identidade. Também será possível compreender como os chamados Estudos Organizacionais em geral se caracterizam por concepções epistemológicas que podem ser fontes inesgotáveis de análise sob a perspectiva da Dialética Negativa.

ECONOMIA POLÍTICA DO PODER EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

O grupo de pesquisa “Economia Política do Poderem Estudos Organizacionais– EPPEO”, representa estudos que vêm sendo desenvolvidos desde 1978 sobre as relações de poder e mecanismos de controle nas organizações, entendidas estas objetivamente como unidades produtivas. A concepção que orienta o EPPEO é a de que compreender a estrutura material dos fenômenos organizacionais é um exercício de uma interação necessariamente contraditória, complexa, paradoxal e jamais definitiva entre o sujeito e o real, porque ambos, sujeito e realidade, encontram-se em um processo dinâmico, de forma que não há uma compreensão final e absoluta sobre como os fenômenos são, apenas uma compreensão histórica, da qual é necessário dar conta tendo como orientação a crítica intransigente a toda a forma de autoritarismo e a defesa de uma sociedade democrática e emancipada.

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS NO BRASIL: ARRISCANDO PERSPECTIVAS

O propósito deste artigo é, a partir do que chamo de elementos constitutivos dos Estudos Organizacionais – EOR, arriscar elaborar perspectivas para esta área. Como de hábito, não vou abdicar de eleger categorias (no caso, elementos constitutivos), as quais, naturalmente, encontram-se na realidade e foram apropriadas como concreto pensado.

Análise de Discurso em Estudos Organizacionais: as concepções de Pêcheux e Bakhtin

O objetivo deste ensaio é refletir sobre a Análise de Discurso em Estudos Organizacionais segundo as concepções de Pêcheux e Bakhtin. Não se trata de uma proposição operacional de Análise de Discurso – AD, mas de uma discussão acerca dos cuidados sobre sua prática. A justificativa para este ensaio deve-se ao fato de que a utilização de entrevistas qualitativas e de análise de documentos e textos impressos em pesquisas nas áreas dos Estudos Organizacionais tem aumentado de forma exponencial nos últimos quinze anos no Brasil. Para Michel Pêcheux há uma relação discursolínguasujeitohistória ou discursolínguaideologia, em que o discurso é estudado não apenas enquanto forma linguística, mas como forma material da ideologia e em seu contato com o histórico, pois é aí que a materialidade específica do discurso se constitui. Já a teoria da linguagem de Bakhtin, em sua concepção dialógica, proporciona a apreensão de um processo de compreensão de um referencial heurístico (enquanto procedimentos pelos quais o sujeito, através de processos, regras ou métodos, descobre o sentido das palavras) de grande valia para a compreensão da estratégia de análise do discurso. O que se pode concluir é que quando se analisa um discurso é necessário considerar que o mesmo não tem sentido sem que haja uma interpretação, um significado que lhe dê visibilidade.

EPISTEMOLOGIA CRÍTICA DO CONCRETO E MOMENTOS DA PESQUISA: UMA PROPOSIÇÃO PARA OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

O objetivo deste estudo é propor, a partir de uma epistemologia crítica do concreto (ECC), um procedimento metodológico que explicite os três momentos fundamentais de toda a pesquisa orientada por tal epistemologia. Não se trata de um roteiro a ser seguido, mas de uma reflexão sobre a forma processual de ação do pesquisador que tem a finalidade de orientá-lo em sua prática de maneira que ele possa compreendê- la. A pesquisa não se realiza de forma automática, direta e simples. Toda a pesquisa comporta momentos distintos, porém integrados, em seu processo de realização. Tais momentos não se reduzem a contatos e tampouco à quantidade de vezes em que o sujeito pesquisador estabelece relações com o objeto de sua pesquisa, mas às formas como essas relações se desenvolvem e se transformam. São, de fato, momentos caracteristicamente distintos e integrados de apropriação do real pelo pensamento a partir do real. Cada momento da pesquisa é constituído de um conjunto de ações interativas entre o pesquisador e o seu objeto, e não há uma sucessão predefinida de eventos tais que de um momento a outro haja uma passagem linear, natural e automática. O pesquisador evolui de um momento a outro quando supera as limitações de cada momento anterior, porém não de forma sucessiva, pois não existe qualquer garantia de que, a partir das ações interativas do sujeito pesquisador com o objeto, não haja necessidade de se voltar ao entendimento de determinados elementos constitutivos da fase anterior. A proposição dos três momentos da pesquisa em uma ECC para os estudos organizacionais procura sugerir que toda a pesquisa, nessa dimensão, é um processo que tem o real como primazia e que a relação do sujeito pesquisador com o concreto não é direta, imediata, simples e definitiva. Há um ir e vir necessário entre o sujeito e a realidade estudada para que ele possa apreendê-la em sua totalidade cognoscível e, portanto, em sua essência dinâmica e contraditória, e não apenas em sua aparência fenomênica.

ADMINISTRAÇÃO E ESTUDOS ORGANIZACIONAIS NO BRASIL: autonomia, convivência ou dependência?

O texto apresenta a base argumentativa utilizada pelo Prof. José Henrique de Faria no III Painel Virtual do GPAP, organizado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, por meio da Rede de Pesquisa em Administração Política, no dia 02/12/2021.