Discussão de Teoria Crítica do Controle nas Organizações
Conforme solicitação de alunos e colegas, e com o intuito de divulgar e incentivar a discussão de textos sobre a temática “Processo de Trabalho, Gestão, Poder e Subjetividade”, compartilho aqui resenha do texto do Prof. Dr. José Henrique de Faria, intitulado “A teoria crítica do controle nas organizações produtivas capitalistas” de 2008. Neste capítulo, Faria …

Conforme solicitação de alunos e colegas, e com o intuito de divulgar e incentivar a discussão de textos sobre a temática “Processo de Trabalho, Gestão, Poder e Subjetividade”, compartilho aqui resenha do texto do Prof. Dr. José Henrique de Faria, intitulado “A teoria crítica do controle nas organizações produtivas capitalistas” de 2008.

Neste capítulo, Faria (2008) apresenta uma classificação do controle nas organizações. O autor escreve que o controle tem sido entendido como um sinônimo de influência e poder, ou se tem entendido poder como forma coercitiva de controle. Enfatiza, no entanto que, sejam físicos, diretos, como na coerção, ou indiretos, psicológicos e sutis, o controle, e em conseqüência as relações de poder, está no cerne de todas as propostas de gestão do processo e das relações de trabalho capitalistas.

Ainda sobre o controle, Faria (2008) escreve que o imperativo da gestão e controlar para produzir, baseado em uma racionalidade instrumental. O controle compreende assim controlar os meios de produção, investimentos, tecnologia, processo e principalmente os agentes de valorização do capital: os trabalhadores. Assim, o autor argumenta que a função social do controle consiste em permitir a acumulação capitalista, para isso, o controle exercido nas organizações não é um controle qualquer, mas um controle capitalista.

É sobre o controle capitalista que Faria (2008) propõe classificação entre controle econômico, político-ideológico e psicossocial, separados em sua classificação por motivos didáticos, sendo que na prática se apresentam de forma interdependente e imbricada.

O controle econômico tem por base o próprio processo de produção capitalista, a compra da força de trabalho, sua utilização e a produção de mais-valia e a divisão do trabalho. Faria classifica o controle econômico em controle por relações de propriedade legal e de propriedade real, diferenciando na relação de propriedade e posse/controle sobre os meios de produção.

O controle político-ideológico inclui o campo jurídico com suas definições nas instâncias normativas e legais, a estrutura de poder político e ideológico que apoiam a estrutura econômica e remetem as relações de dominação garantindo a permanência e a institucionalização dessas estruturas. Conforme Faria (2008) o controle político-ideológico se dá pela estrutura burocrática e hierarquia nas organizações, de forma que envolve os sistemas de normas e procedimentos; o controle disciplinar, que envolve os sistemas de punição e recompensa; o controle por transmissão ideológica, através do discurso, e por alienação do material, do psíquico, do seqüestro da subjetividade e pela substituição do ideal de ego individual pelo ideal de ego da organização (ou da ideologia) que leva a idealização.

Ao tratar sobre o controle psicossocial Faria (2008) escreve que a organização só vai considerar seu próprio desejo, proposto como ideal comum a todos, para qual devem visar todas as ações individuais. No entanto a organização vai tentar evitar frustrações motivando o indivíduo ao mesmo tempo em que oferece um sistema de legitimidade definido e sistematizado. Assim se cercará de todos os aparatos para institucionalizar a relação de submissão, tanto punindo, quanto alimentando a fantasia de organização protetora.

Ao utilizar-se do desejo do indivíduo a organização é recalcadora e isso acarreta alienação, pois a organização fala em nome do indivíduo que perde o domínio sobre seus próprios desejos e sonhos, sendo alheio às decisões que dizem respeito inclusive a si. O recalcamento permite tomada de consciência e condições para reversão de papéis, quando isso ocorrer e a organização se sentir ameaçada, esta passará a ser repressiva. A violência surgirá disfarçada pela lei da linguagem e da ordem . Tudo se passa como se fosse resultado de uma ordem natural, controlada pela razão instrumental. (FARIA, 2008)

Segundo Faria (2008), essa racionalidade interage permanentemente com as subjetividades e resulta em outras racionalidades e subjetividades. O subjetivo acomoda a razão em sua estruturação desde que seja compatível com suas formulações inconscientes e subconscientes em um mecanismo dinâmico e contraditório. Por isso não há possibilidade de razão pura. Para o autor, a racionalização é a valorização da razão enquanto máscara sobre o afeto.

Assim, na organização, para viver participa-se do jogo, reproduz-se seus valores e criam-se mecanismos de defesa. A razão castra a manifestação dos sentimentos, que, como não podem ser totalmente contidos, são desviados de maneira produtiva através de diversas práticas de manipulação. É por reconhecer a existência e importância da subjetividade que as organizações investem no controle psicossocial.

Para Faria (2008), o controle psicossocial relaciona-se a duas ações e um efeito, vigiar e punir são as ações, e a disciplina é o efeito. Desse modo o poder atua sobre o corpo e a alma do indivíduo, afirmando sua racionalidade, que demanda uma realidade previsível e sem surpresas para qual é necessária a existência de sujeitos permanentemente adestrados.

Na classificação criada por Faria (2008), há sete categorias de controle psicossocial: o físico, o normativo, o finalístico, o político, o simbólico-imaginário, o por vínculos e o controle por sedução monopolista.

O controle físico teria como fundamento o domínio do corpo do indivíduo ou do grupo social, agindo através da violência, da exploração, de toda a sorte de concessões ou de impedimentos, de permissões e de proibições, de definição de espaços e de movimentos, de delimitação de tempo e de natureza do trabalho. A expressão deste controle pode ser encontrada na vigilância, nas normas e formas de relacionamento social estabelecidos pelas organizações, por exemplo, como se vestir, como se portar, qual o local e horário de trabalho, entre outros, que encontrem correspondência com a dominação sobre o corpo do indivíduo.

O controle normativo diz respeito às regras, normas e regulamentações, explícitas ou implícitas que regulam o funcionamento e a ordem da organização, segundo Faria (2008), o controle normativo define os procedimentos burocráticos, suas atribuições de autoridade e responsabilidade, como as convenções que geram obediência e aceitação por imposição de natureza moral ou defensiva.

O controle finalístico pode ser também entendido como controle por resultados, atua verificando e garantindo a realização da finalidade a que se propõe a organização. Baseia-se em sentimentos de cumplicidade e compromisso com a organização. Esse controle, na prática, se dá a partir do estabelecimento de objetivos e metas a serem cumpridos.

O controle compartilhado ou participativo refere-se à construção e manutenção de convicções de envolvimento do indivíduo no processo decisório.

O controle simbólico imaginário diz respeito à adesão imaginária, através de um modelo de referências legitimado, utiliza-se de formas de competição interna, crenças, adesão por reconhecimento e prestígio, discurso conciliador, símbolos de sucesso e fracasso, entre outros.

O controle por vínculos remete à concepção de um projeto social comum, a partir de contratos formais e psicológicos estabelecidos entre indivíduo e organização, baseia-se em interesse e necessidades de amor, ternura, libido, identificação subjetiva ou inconsciente, confiança na organização e transferências egóicas.

O controle por sedução monopolista, de que fala Faria (2008) caracteriza-se pela unificação do discurso, que exclui a vontade e o discurso singular dos indivíduos e os torna apáticos.

Referencia:

FARIA, JOSE HENRIQUE de; “Economia Política do Poder – Voume 3: As práticas do controle nas organizações”.Edt. Juruá, 5ª. edição, Curitiba, 2008.  Capítulo 16: A teoria crítica do controle nas organizações produtivas capitalistas. [LINK]