Conforme solicitação de alunos e colegas, e com o intuito de divulgar e incentivar a discussão de textos sobre a temática Processo de Trabalho, Gestão, Poder e Subjetividade, compartilho aqui resenha do texto do Prof. Dr. José Henrique de Faria, intitulado “Relações de Trabalho no Sistema de Capital: a trajetória histórica do trabalho” de 2009.
O capítulo intitulado “Relações de Trabalho no Sistema de Capital: a trajetória histórica do trabalho” discute o processo de organização do trabalho pelo viés da trajetória da resistência operária, a ideologia e os fundamentos da teoria administrativa a partir de uma análise crítica, como se dá a organização do trabalho sob a égide do capitalismo, discutindo neste âmbito o processo de trabalho, a cooperação, as mudanças em relação à propriedade no capitalismo, e finalmente sobre a divisão do trabalho, a gestão e o poder.
Em relação ao processo de organização do trabalho e a trajetória da resistência operária tem-se que desde a estrutura das organizações, como sua tecnologia, estratégias de gestão e de produção vão se modificando ao longo do tempo como resultado dos conflitos entre capital e trabalho, isto é, dada a dinâmica das relações de trabalho.
De maneira semelhante, a teoria administrativa vai se desenvolvendo também para dar conta desta mesma questão, disfarçada pela lógica do aumento da produtividade e eficiência, construindo uma ideologia que não permite acesso direto a outro de seus principais ganhos: o aumento da dominação do trabalho pelas classes dominantes, o que se percebe ao longo do desenvolvimento das teorias administrativas é uma tentativa de aumentar o controle sobre o trabalhador, utilizando-se de mecanismos tanto objetivos, quanto, cada vez mais subjetivos e sutis.
Quanto à organização do trabalho e a gestão capitalista tem-se que questões como propriedade, posse e controle dos meios de produção e da capacidade de trabalho também vem se modificando ao longo do tempo, de um capitalismo em que tanto propriedade, quanto posse e controle pertenciam a um mesmo sujeito (o dono do capital), para um capitalismo cada vez mais imbricado, complexo e dinâmico em que não diferentes sujeitos podem deter propriedade legal e real do processo de produção, fazendo com que a cooperação e a divisão do trabalho assumam novas formas no capitalismo atual.
Em relação à cooperação, tem-se que o trabalho é dividido e executado de maneira não isolada através da sociedade, sendo que essa divisão social do trabalho é inerente ao trabalho humano. Já a divisão técnica do trabalho, reflete o parcelamento das operações e do trabalho inerente à fabricação de produtos. No capitalismo a cooperação não acontece entre os indivíduos, mas entre cada indivíduo e o capital, sendo que a cooperação baseada na divisão do trabalho adquire no capitalismo a forma clássica na manufatura. A divisão técnica do trabalho repousa no controle, na hierarquia e na disciplina, condições estas, alcançadas por meio da fábrica e ampliada ao longo da evolução das tecnologias de gestão capitalista.
Em relação às formas de propriedade no capitalismo tem-se também mudanças estruturais. Ao longo do tempo o controle sobre o que é produzido e como é produzido deixa de ser apenas do capitalista individual, para no capitalismo contemporâneo criar novas configurações de propriedade em que: trabalhadores perdem cada vez mais o controle sobre o processo de trabalho; há separação entre propriedade econômica e posse, e entre propriedade legal e real; e há o desenvolvimento de complexas hierarquias nas empresas capitalistas monopolistas.
Entende-se, portanto, que os elementos econômicos que compõe a gestão do processo de trabalho se subdividem em propriedade legal e real, sendo a legal a propriedade relacionada ao direito de obter dividendos, por exemplo, comum do acionista proprietário sem direito a voto, e a propriedade real, em que se tem de fato o controle tanto sobre o processo de acumulação quanto sobre as decisões estratégicas de investimento (que compõe a propriedade real econômica), e o controle sobre o capital, os agentes do processo de valorização do capital e sobre os meios de produção (que compõe a posse dos meios de produção), ressaltando que a propriedade real não precisa corresponder ao proprietário legal, que pode ser aqui substituído por um administrador, gerente, executivo, CEO, etc, que vá de fato controlar o processo de trabalho.
Referencia:
FARIA, J. H.; “Gestão Participativa: relações de poder e de trabalho nas organizações. São Paulo: Atlas, 2009. Cap. 2. [LINK]