Conforme solicitação de alunos e colegas, e com o intuito de divulgar e incentivar a discussão de textos sobre a temática “Processo de Trabalho, Gestão, Poder e Subjetividade”, compartilho aqui resenha do texto do Prof. Dr. José Henrique de Faria, intitulado “As bases epistemológicas e metodológicas da economia política do poder” de 2013.
O texto discute a Epistemologia Crítica e a metodologia que lhe corresponde sendo que são esses os fundamentos da teoria da Economia Política do Poder.
Uma questão importante para se pensar a pesquisa dentro da Economia Política do Poder é a consistência entre epistemologia e metodologia. Assim é necessário esclarecer que do ponto de vista epistemológico a Economia Política do Poder se baseia um uma epistemologoa crítica, fundamentada no materialismo histórico dialético, ao mesmo tempo não se tratando a realidade como únicamente material, isto é, a epistemologia crítica traz espaço para o estudo da subjetividade, que, embora não objetivável, é considerado aqui como real, não como abstração, visto que se materializa na ação, no comportamento dos sujeitos.
Característica fundamental do método de produção do conhecimento adotado pela Economia Política do Poder, portanto, é a primazia do real sobre a ideia. O metodo de leitura da realidade aqui utilizada é a materialista, isto indica que a primazia é do real sobre a ideia. O que não impede que se recorra a outras teorias, outras epistemologias, contanto que não se abandone a epistemologia que se escolheu, desde que eles sirvam de suporte para entender a realidade, e não o contrário, como um esquema de conceitos para “julgar” a realidade.
Move toda epistemologia a pergunta chave “o que é a verdade”. Aqui considera-se que a verdade é o real. E que a mediação entre o real e a consciencia é feita pelo pensamento, ainda que nesse processo aproprie-se do real em si, para se passar a ter o real para si, que é representação do real.
A ideia principal aqui é, portanto, ouvir a realidade e buscar entendê-la a partir dela, não a partir do que o sujeito já sabe, é diferente assim da interpretação. Embora sempre passe por um processo de interpretação, em que o pensamento media a realidade em si com a realidade para si. A ideia aqui é não parar na interpretação, visto que, não se parte da ideia do esquema mental e fechar a realidade no que é valido para o “interpretador” e sim, manter como foco a realidade em si, o que ela diz, buscar escutar o que a realidade mostra independente do esquema conceitual que já se possui, partindo da realidade, e o que ela mostra, ai sim, buscar os conceitos que já estão disponíveis, ainda que tenham sido desenvolvidos em outras epistemologias, mas que sirvam para explicar o que a realidade está mostrando, entao pode, e deve ser utilizado, daí a necessidade incluive de interdisciplinariedade para se compreender a realidade de forma mais ampla e abrangente possível. No entanto, a gênese do processo ter que ser a realidade.
Demais característica fundamentais aqui: ir além do aspecto fenomênico da realidade, buscando entendê-la em sua totalidade. Localizar historicamente onde o fenômeno se encontra. Abertura para teorias diversas, trabalhando interdisciplinaramente, respeitando a congruência epistemológica das teorias utilizadas.
A apropriação da realidade pelo pensamento é dialética e acontece em fases simultaneas: são três fases, separadas para facilitar a exposição didática: a fase de aproximação precária do sujeito com o objeto, sendo uma fase pré-sincrética, isto é, que antecede à assimilação pelo sujeito, do objeto como uma unidade da diversidade; outra fase é a de uma aproximação deliberadamente construída, na qual se encontra o conhecimento valorizado pela relação entre o sujeito e o objeto, é, portanto, uma fase sincrética (percepção global ou da totalidade do objeto pelo sujeito). Por fim, a terceira fase diz respeito à apropriação do objeto pela consciência como produção do conhecimento propriamente científico, ou seja, é uma fase sintética (elaboração, pelo pesquisador, da formulação teórica da totalidade do objeto partindo dos seus elementos simples para alcançar as relações complexas). Conforme o autor, este processo permite que o sujeito pesquisador realize uma síntese das inúmeras contradições do real na forma de um real pensado. (FARIA, 2012, p.1)
Referencia: FARIA, JOSE HENRIQUE de; AS BASES EPISTEMOLÓGICAS E METODOLÓGICAS DA ECONOMIA POLÍTICA DO PODER. Texto em PDF, disponibilizado como material da disciplina. Curitiba, EPPEO, 2012.